Perdeu-se uma vida inteira em forma de uma agenda preta por fora, letras douradas e um divisor de páginas azul.
Este livro tem todas as informações de minha vida: Tipo sanguíneo, minhas alergias, minhas contas bancarias, meus compromissos, meu passado, meu futuro. Minhas alegrias, meu aniversário, o plano de construir a casa e o orçamento para trocar de carro.
O número de telefone de meus pais e as datas de aniversário de meus filhos.
Na página inicial uns rabiscos de um projeto que poderá me deixar rico, nas últimas páginas uns pedidos de presentes de alguém.
Tem endereços de fornecedores e quanto cada um de meus clientes me deve.
Não me lembro o trajeto que fiz com ela, mas devo tê-la esquecida em algum caixa eletrônico ou algum fast-food. Com certeza não o deixei no banco da praça – que nele não parei, não no cinema e pouco provavelmente na biblioteca.
Se você encontrar este livro que tanto valor tem para mim, poderá verificar o número de meu telefone na primeira contra-capa, onde também constam meus endereços – o de casa e o da chácara.
Mas peço que ao encontrá-lo, destrua-o. Por favor, resista à tentação de me devolvê-la, você não será recompensado.
Descobri que sem ele, não preciso me preocupar com minhas alergias que talvez já esteja curado da maioria delas, não preciso saber quem me deve, nem quanto tenho a pagar, não preciso me antecipar ao futuro, ele chegará. Descobri que as datas realmente importantes de alguma maneira eu me lembro delas, não preciso anotá-las.
Se você encontrar este livro, destrua-o. Todos os nomes que constam nele agradecem.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
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