quarta-feira, 9 de março de 2011

E terminei a leitura de "Minhas duas estrelas" de Pery Ribeiro

Tá, foram meses lendo, o que não quer dizer que a leitura fosse tediosa, muito pelo contrário. É que eu sou lento mesmo para ler. Gosto de ler em momentos de solidão e com a mente bem livre e tenho descoberto que estes momentos são cada vez mais raros.




Mas a leitura do livro "Minhas duas estrelas" rendeu uma ótima experiência de leitura.



Se você pretende ler este livro, aqui vai um alerta. Não espere encontrar uma biografia tradicional, daquelas em que se segue uma linha cronológica, onde mantêm uma constância literária, onde tudo é minuciosamente explicado como uma dissertação de mestrado e principalmente onde o autor praticamente não aparece na narrativa, como acontece, por exemplo, em "Chega de Saudade" de Ruy Castro.



Se você leu o livro de Ruy Castro e espera encontrar um livro parecido no livro de Pery, por ter o prefácio de Ruy Castro, mude de cabeça, senão você não vai curtir esta narrativa.



É um livro de memórias, de ricas memórias do autor, contando a sua visão intima de dois mitos da música brasileira - Dalva de Oliveira e Herivelto Martins.



É uma narrativa de um filho contando sua vida permeada pelos pais e não o contrário, tanto que o título abre como "Minhas...", mostrando que o centro é o autor e filho.



Não existe linha cronológica, ora se vai para frente, ora se volta, o que a certo ponto pode causar algumas confusões mentais. Mas entendendo isso fica evidente que o que permeia a narrativa são os sentimentos acima de qualquer cronologia.



A leitura é simples, direta, mas muito doida. As experiências de filho são narradas com uma crueza impar. Por vezes eu me perguntava por que se expor tanto assim? Em dados momentos eu sentia estar lendo uma biografia não autorizada de tamanha auto-exposição.



Mas ao chegar ao fim do livro o que senti é que aquele papo que começou em Maio na mesa do Casarão da Cultura, se prolongou por estes meses, onde uma pessoa abre todo seu coração para o seu melhor amigo!



Sinto que sou agora o melhor amigo de Pery.



O ápice do livro acontece no capitulo 48 ("O amor enrustido"), onde tudo se resume. Os capítulos 49 e 50 complementam este ápice e em era de twitter e informação condensada, diria, com toda dor no coração que merece, que estes capítulos resumem à narrativa.



Uma critica a capa que traz a informação "A história dos personagens da minissérie Dalva e Herivelto...", uma aberração, a minissérie, apesar de bem produzida, contou muito pouco, quase nada e além disso essa capa coloca a minissérie como o centro dos acontecimentos, tanto Dalva, Herivelto e Pery tem luz própria. Algo como "A história de Dalva e Herivelto também narrada na minissérie" talvez fosse menos vendável e mais correta.



Um errinho único que detectei é que há uma citação a capa do livro, mas da primeira edição o que não confere com a capa da segunda. Isso acontece no final do livro, mas é um erro sem importância alguma, tanto que nem anotei a página em que ocorreu.



Não concordo com algumas análises da obra de Herivelto, mas quem sou eu para discutir com o filho e músico talentoso Pery, talvez a minha visão é que seja demasiada míope e precise de ajustes.



Bom, é isso: Uma ótima leitura, mas aconselho a pessoas que conhecem, ainda que um pouco, da história dos dois, que ouvem as composições de Herivelto com ou sem Dalva, que ouvem Dalva de compositores, com o Trio de Ouro e em carreira "Solo".



Uma boa partida é o programa Ensaio da TV Cultura com Herivelto que tem uma interpretação emocionante de "Ave Maria no Morro". Depois de uma olhada na Série da Globo para se situar e leia o livro.



Por falar nisso, Herivelto compôs duas músicas que são muito conhecidas fora do Brasil com suas letras em Castelhano: Caminhemos virou Caminemos e foi gravada pelo Trio Los Panchos lindamente e "Ave Maria no Morro" virou "Ave Maria no Morro" mesmo e foi gravada até pelos Scorpions (veja aqui).