Deus colocou duas crianças para brincarem em um de seus jardins.
Desta vez não o chamou de Adão, não a chamou de Eva. Deu-os nomes sim, mas
crianças que eram, brincaram quarenta anos e nunca perguntaram seus nomes.
Crianças não precisam de nomes. São amigos, irmãos, manos,
primos, pai e mãe. Criança se conhece por cheiro, por cor de
cabelo, de pele, por olhos, por penteado, por aquele, por sorriso, por choro.
Criança coloca nome nas coisas, caca, miau, au-au, dindin, meleca, computador,
tese, orientador, emprego, arvore, fruto, mas não em gente.
Por quarenta anos se ver era uma alegria, mas não se ver não era
triste. Brincaram, se esconderam, se acharam, se machucaram, se curaram, se
perderam, se encontraram, choraram e riram. Juntos e separados.
Mas crianças que eram e ao contrário dos primeiros, não pecaram.
E quarenta anos se passaram. E nunca precisaram de nomes. Para as crianças, quem precisa de nome é coisa, não gente.
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