segunda-feira, 31 de maio de 2010

Porque Ultraje a Rigor? (ou por onde andará Joshua Hogler?).


Sobre o que agente tá falando mesmo?


Agente estamos falando de um álbum histórico da banda de Rock Ultraje a Rigor, lançado no início dos anos 90. A banda, que todo mundo conhece, com sua critica acida a sociedade em geral, surge nos malucos anos 80, num pais sul-americano que tenta viver sem censura e encontrar seu caminho, depois que tem seu primeiro presidente civil ainda que eleito indiretamente morto por problemas intestinais e um senhor de bigodes que tenta desesperadamente tirar o país de uma hiperinflação usando métodos também intestinais.

Na terra da carroça do Collor, eleito e deposto pelo povo (agente não sabemos escolher presidente), o Vinil começa a deixar a cena e alguns mais abastados começam a ouvir musicas em CDs.

Neste contexto, o Ultraje faz uma ótima festa de despedida ao Vinil e a década, com o que ficaria entre seu terceiro e quinto disco. O álbum “Por quê  Ultraje a Rigor?”. O “Por quê ” é um álbum nada convencional, não é sempre que uma banda ou artista, resolve de repente lançar em um único álbum a lista de todas as suas influencias. Poucas foram as que fizeram isso e a formula ainda hoje é rara.

O “Por quê ” tem de tudo um pouco: De vinhetas de programas como “Os monstros”, a uma interpretação, pra mim definitiva de Bárbara Anne dos Beach Boys, “Quatro Cabeludos” do Roberto e Erasmo e “Mauro Bundinha” a primeira musica do grupo.

O que tem de legal em tudo isso? É, na época assumir uma tiatagem a Roberto Carlos não era exatamente ser popular entre o publico Rock n Roll, e talvez não seja até hoje. Beatles todo mundo sabe o nome dos quatro integrantes de cor, mas fale o nome dos integrantes dos Beach Boys, sem consultar no Google! Isso é legal ! A partir deste disco você vai ouvir estes músicos com outros ouvidos.

Outra coisa genial e rara em discos, é que o encarte trás os acordes das músicas. Ta, hoje é fácil procurar no Google qualquer tablatura, mas pense em 1992 que nem Celular existia direito! E outra coisa genial é que só tem os acordes e não tem os tempos. Pra juntar tudo precisa um pouco de experimentação.

O encarte da capa é assinado por Joshua Hogler, profundo conhecedor da historia da banda e trás um resumo da historia da banda até ali. E tem a famosa história de porque a banda se chama “Ultraje a Rigor”? Na época era pergunta obrigatória de entrevistadores desavisados – “Por quê  Ultraje a Rigor”? E neste encarte está a historia para ninguém mais ter duvida. Não acredito que as perguntas tenham diminuído, mas ta lá, inclusive para orientar os calouros a roqueiro como batizar sua futura banda de sucesso.

Apesar de não ter sido o disco mais vendido da banda, cerca de 90.000 exemplares e não ter emplacado nenhum hit nas rádios, nem ter musica em abertura de novela, o “Por quê ” é um disco de festa de despedida do Vinil, é uma banda que sempre prezou pela simpatia abrindo sua memória e mostrando pros garotos: - Olha, nós crescemos ouvindo isso, vendo estes programas na TV, imitando essa gente. Vão por este caminho, reinterpretem suas influencias que vocês vão longe.

Talvez poucos tenham aprendido a lição e pouco rock se fez depois disso, mas a lição ta aí para quem queira aprender.

Mas afinal, quem é Joshua Hogler?

Talvez, depois de respondido “Por quê  Ultraje a Rigor?” A pergunta agora seja “Por quê  Joshua Hogler?”

Como e quando o vinil chegou nas minhas mãos?


Comprei no Sebo Historia, atualmente “Outras historias” em Rio Claro, não sei a data exata em que comprei, mas deve ter sido por volta de 1999 quando eu quase que diariamente este sebo a procura de coisas interessantes. Foi comprado em ótimo estado, todo plastificado. Usei muito, mas ainda está muito conservado.

Como este disco mudou minha cabeça?


Antes dele eu não tinha muita noção da importância de bandas como Beach Boys e o próprio Roberto Carlos pro Rock Nacional. Foi procurando de onde vinham as músicas deste álbum que cheguei em muita raiz. Outra coisa legal foi acompanhar na minha guitarra os acordes do encarte. Toquei muito com este disco rolando.

Por quê  o vinil é mais legal que o CD?


A vantagem do CD é que tem a faixa “Slow Down” versão gripada, que hoje você pode ouvir na própria pagina do Ultraje, de resto este é um álbum de despedida do Vinil e deve ser ouvido como tal. O lado A abre com a vinheta de “Os monstros” e o lado B abre com a vinheta de “Walk Right Back”. E ao fim de Twist and Shout você tem de tirar o disco e colocar o lado B. Isso parece pouco hoje, mas tem um sentido quase zen de você estar próximo ao disco quando ele começa. Isso tudo sem contar que disco pula, arranha e tem uma sonoridade própria para o objetivo do disco. E tem até uma brincadeira que não fará sentido nenhum no CD. Ao final do lado A e B tem um ruído como de arranhão, isso no CD é quase como legenda em filme Pornô.

Por quê  eu acho que você deveria tê-lo?


Se você é fã do Ultraje, você já deve ter este álbum na sua coleção, então não vou receitá-lo, mas se você pretende montar uma banda de rock ou gosta de tocar sua guitarra e cantar, esse disco também deve constar de sua coleção, pra ver um pouco dessa atitude rock&roll de protestar, reclamar, mas não perder o bom humor e nem a inteligência. É um guia para você procurar o que influenciou o Rock Brasil e que em geral é escondido, como Roberto Carlos, Beach Boys e musica de TV. A contracapa assinada pelo tal Joshua Hogler é um compendio que deveria se chamar: “Tudo o que você precisa saber sobre uma banda de Rock”. Do visual, passando pela atitude, até a escolha do nome. Impossível você ouvir este disco, ler seu encarte e não pensar em ter uma banda.

Além deste...

Além deste, eu tenho toda a discografia em Vinil do Ultraje e a maioria dos lançados em CD. Destaco o excelente Acústico da MTV e o obrigatório “Nós vamos invadir a sua praia”. Tenho o CD “Dois em Um” devidamente autografado. Citei lá em cima o Spaghetti que segue a mesma linha de entregar as influências da banda e pelas mesmas razões, recomendo. Entretanto, o encarte do Spaghetti é bem pobre! Falarei deste em outro POST. Existem outros discos que são despedidas do Vinil e alguns saudosistas que talvez escreva mais a frente.


Das duas vezes que encontrei Roger Rocha Moreira pessoalmente.

Cena 1.

Estou eu andando, carregando caixas na Condex 1988, acredito, quando esbarro com um cidadão louro, com uma trança que vai até a cintura. Foi uma cacetada e tanto. Parei pra pedir desculpas, ele disse sorrindo – “Vai ficar ruim pra tocar guitarra, mas eu dou um jeito, HEHEHE – Que nada não foi nada não e vc ta legal?” – “Não tudo bem. Falou, falou !” respondi e segui o caminho.

O cara que tava comigo – “Você viu quem era? O Roger do Ultraje”.

Cena 2.

Inicio de 1996 e eu preciso fazer umas entrevistas com usuários de uma novidade que estava surgindo no mercado brasileiro, a Internet, pro meu curso de redes do mestrado. Entrei em contato com algumas BBS (tipo provedores da época) e poucos usam o recurso, algumas acham que é uma moda passageira, até que entro em contato com a Mandic de São Paulo. Eles me recomendam mandar uma mensagem para um usuário deles que por falar e escrever muito bem em Inglês, era o primeiro a usar o recurso. O nome “Roger Rocha Moreira”! Me arrepiei em ver a resposta à minha mensagem ser respondida rapidamente “Se quiser mandar as perguntas por email eu te respondo rapidinho, se quiser ligar pro estúdio estou por lá tal horário”. Perguntei umas coisas por email, mas não resisti e liguei. “Oi, eu sou o cara que derrubou umas caixas de computador há uns anos atrás em você na Condex e não te reconheci!” – “Essa cena deve ter sido ótima, queria estar lá para ter visto, o que você precisa?”. O trabalho ficou perdido em alguma prateleira do professor e posteriormente deve ter ido pro lixo, mas naquele papo fizemos algumas previsões que estão se concretizando hoje, como você poder entrar em contato com seus ídolos diretamente.

Meus discos de Vinil preferidos: A série.

Não sei exatamente quantos discos de vinil eu tenho e não sei exatamente sobre quantos vou escrever, mas vou inaugurar uma série de Posts, sobre os discos de Vinil que tenho e que me acompanhariam a ilha de Lost, se lá tiver um toca discos de Vinil.

Você pode concordar ou discordar da minha lista, pois é uma lista pessoal. Mas tenho certeza que minhas opiniões serão compartilhadas por mais habitantes desta aldeia global.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Autografo

Michelangelo, você sabe muito sobre ele: sua obra, aspirações políticas, ele e o papa, tendências sexuais, tudo. Mas não pode falar do cheiro da Capela Sistina. Nunca esteve lá, nem olhou aquele teto lindo. Nunca o viu.” – Trecho de um dialogo do filme Gênio Indomável

Eu me lembro bem da primeira celebridade que conheci pessoalmente, mas por ironia, não me lembro quem era. Me lembro da situação: Meu pai que trabalhou algum tempo em uma radio difusora em nossa cidade, quis que eu conhecesse o estúdio da radio local. Conhecemos o estúdio e um artista estava sendo entrevistado e nos deu um “oi”. Meu pai sempre dizia quem era ele, mas confesso que não me lembro, posso até perguntá-lo agora sobre isso, mas prefiro não fazê-lo, porque seu nome é o menos importante. O importante é que naquele instante nasceu um sentimento que me acompanha até hoje e que se renova de vez em quando. O momento de conhecer uma pessoa que admiro e ganhar deste um autografo.

Existe algo de mágico de receber um autografo. O primeiro que recebi foi do poeta intinerante Roraima Alves da Costa, um poeta que viaja (ou viajava, perdi contato) pelas escolas do Brasil vendendo seus livros de poesia e em conseqüência, autografando-os. Tenho o livro até hoje, muito bem guardado e vez por outra o leio. Este foi o único autografo que recebi antes de conhecer o trabalho de alguém. Sempre procuro autografo de pessoas que admiro muito. Depois deste primeiro, vieram: Mauricio Pereira, Kika Seixas, Roger Rocha Moreira, Prof. Antonio Marmo, Inezita Barroso (que autografou um pedaço de papel de serviço), Pena Branca, Xavantinho, Renato Teixeira, Pedro Cameron, Caçulinha, Braguinha (não o compositor de Carinho) e finalmente, ontem Pery Ribeiro.

Eu já tinha tentado vê-lo outras vezes que ele veio até minha cidade, mas nunca havia conseguido. Ontem, com um pouco de atraso, fiquei sabendo que ele estaria autografando o livro “Minhas duas estrelas” na abertura da exposição em homenagem a sua mãe Dalva de Oliveira. Eu já queria comprar o livro, porque sempre fui fã de Herivelto, de certa forma, até mais que minha co-conterrânea Dalva. Não que tenha algo contra sua voz clara e afinadíssima, inspiração para toda a minha família de músicos, mas o ato de compor e arranjar e tocar ao violão sempre foi o elo que me interessou e por isso Herivelto com suas mais de 700 composições sempre me atraiu profundamente. Assisti com certo desprezo a mini série Global. Não desprezo pelos atores, figurino ou produção, mas pela falta de música na mini-série e historias destas. E pela polarização característica das tramas globais, onde bom é bom e ruim é péssimo!

Pois fui lá. Comprei o livro, olhei a exposição e, enquanto aguardava o inicio dos autógrafos, um grupo fez uma entrevista, de uns 40 minutos com ele. Fiquei a cerca de 10 metros de Pery. Quase tudo o que foi perguntado e o que ele respondeu eu já sabia e quase poderia responder a entrevista por ele. Mas não poderia. Aquele homem de pele morena, cabelos cacheados olhos verdes, transmitia algo que por mais que eu o conheça, eu ainda não o conheço.

Ele transmite uma calma, uma alegria e uma felicidade, seus olhos brilham cada vez que sua voz melodiosa, pausada e forte pronuncia as palavras Dalva e Herivelto, Mamãe e Papai. Um senhor que afirma ter passado por cima (literalmente) de Silvio Caldas e Nelson Gonçalves para poder chegar ao ônibus escolar, quando estes dormiam em suas casas. Este brilho nunca havia visto pela TV.

- Você sabia que ele foi o primeiro a gravar Garota de Ipanema? – Disse um senhor para mim. Mas não pude responder. Eu só conseguia ouvir as historias que Pery Ribeiro contava para a equipe de reportagem e indiretamente para mim.

Fiz algumas fotos, tentei não usar o flash, mas ele disparou por acidente e ele olhou fixamente para mim.

Algumas pessoas estavam impacientes que a entrevista se estendia, mas eu ficaria ali ouvindo suas palavras mansas. Palavras de quem passou pelos melhores momentos da Música Popular Brasileira e tem consciência disso.

Eu queria ouvi-lo cantar. Mas pelo que me informaram a noite seria apenas de autógrafos.

Quando chegou minha vez, só pude dizer meu nome, seguido de um – “Por mim, ficaria a noite toda ouvindo suas historias, a entrevista foi deliciosa!” Queria dizer mais, queria dizer que o admirava como cantor, que admirava o pai dele como compositor, sua mãe como interprete, que “Ave Maria no Morro” cantada pelo Scorpions me fez conhecido na Internet, que eu tenho o disco do Trio Los Panchos com Caminhemos, que meus avós conheceram Vicentina e muito mais, mas a sinusite e o momento não foram pra isso.

Peguei meu livro e disse apenas – “Um prazer enorme conhecê-lo!”. Ao que ele me respondeu com um sorriso – “Prazer todo meu!”.

Este homem que conheceu o cheiro dos que eu admiro de ouvir, ler e ver fotos, me presenteou com um pouco de sua existência, uma assinatura num papel com seu próprio cheiro, sua leitura dos fatos, sua própria musica e sua felicidade.

É há algo de mágico nos autógrafos.

Obrigado, Pery.